sexta-feira, 25 de julho de 2008


Não. Não é que a dor me doa mais que em todos os outros dias, não. Mas é que hoje, acintosamente, tua ausência avançou pelo meu mundo um pouco mais, com leves passos, tingindo de negro o que já era cinza.
Essa mesma ausência dormita em meu leito, ocupa o espaço que é teu, onde desejei vezes sem conta que estivesses. Se não fosse por ela, teu peito abrigaria meu cansaço, delimitaria meu espaço e em ti eu seria o que sequer sabia. Quando a madrugada se apoderasse das familiares horas noturnas, tu me aninharias qual delicada flor e, como pétalas, minhas costas fariam um convite para que teus dedos ágeis refizessem o caminho percorrido por teus lábios. Eu repousaria o cansaço, os temores, a fome em teus braços, único abrigo conhecido. Da tua boca eu beberia de ti, do teu silêncio, da tua fúria contida há tanto. Tua boca me daria a saliva, o sal, o prumo, o rumo, teu gosto e o meu. Teus olhos atentos estariam pousados em mim, sempre incrédulos, nunca mansos. Neles, ninguém além de mim, veria teu brilho ambarino, teus olhos de som e cor. Do teu corpo eu faria um porto, onde o meu permaneceria ancorado, saciado, repleto de ti. Do meu ventre reverberariam as cintilâncias da tua lua deserta e necessária. Na minha boca entreaberta estaria o teu nome, minha prece, o calor do teu corpo moreno de deserto, o gosto da tua carne, a avidez que me consome. E tudo isso ainda nos doeria... Mas talvez assim, hoje não me doesse tanto a tua ausência, cruel e sorrateira, tangível e indelével, que tinge meus dias com as cores do nada...


P/ Jean Luvisoto, meu menino de nome francês, minha alma igual... Abimo pectore, sempre... pra sempre...

segunda-feira, 14 de julho de 2008

Amanhece o dia. Eu, exausta e rouca, percebo que meus gritos por socorro te chegam mudos. Sempre. Ainda estendo as mãos na vaga esperança que um dia elas, petrificadas há tanto, não toquem mais apenas o vazio, que te encontrem no caminho. Mas até mesmo teu vulto se esquiva, deixando para trás o rastro vacilante, impreciso daqueles que querem ficar, daqueles que não têm mais para onde ir, daqueles que ainda precisam se esconder.
Teu silêncio me transforma em estátua de sal e em meu rosto se transfigura uma máscara macabra, cujos lábios se contorcem num esgar horrível, mistura de dor e vazio. Entre culpa e pecado, faço-me viúva-negra, atraindo presas para uma teia que sequer teço sozinha; crédulas, não imaginam que a crueldade que me ensinastes é minha defesa. E é aquilo que me fere mais fundo.

P/ Jean Luvisoto. Sempre.