terça-feira, 30 de outubro de 2007

Sem Fantasia - Chico Buarque

Vem,
Meu menino vadio
Vem,
Sem mentir pra você
Vem,
Mas vem sem fantasia
Que da noite pro dia você não vai crescer
Vem,
Por favor não evites
Meu amor, meus convites
Minha dor, meus apelos
Vou tem envolver nos cabelos
Vem perder-te em meus braços
Pelo amor de Deus
Vem, que eu te quero fraco
Vem, que eu te quero tolo
Vem, que eu te quero todo meu
Ah, eu quero te dizer
Que o instante de te ver custou tanto penar
Não vou me arrepender,
Só vim te convencer que eu vim pra não morrer
De tanto te esperar
Eu quero te contar das chuvas que apanhei
Das noites que varei no escuro a te buscar
Eu quero te mostrar as marcas que ganhei
Nas lutas contra o rei
Nas discussões com Deus
E agora que eu cheguei
Eu quero a recompensa
Eu quero a prenda imensa dos carinhos teus...


Para Jean Luvisoto. Pour toi, mon coeur...mon petit avec le nom français... sempre, porque só tu podes entender aquilo que eu ainda não disse, mas deixo transparecer nos olhos...

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

"Eu sei que atrás desse universo de aparências,
Das diferenças todas,
A esperança é preservada.

Nas xícaras sujas de ontem
o café da manhã é servido.
Mas existe uma palavra que não suporto ouvir,
e dela não me conformo.

Eu acredito em tudo,
mas quero você agora.

Eu te amo pelas tuas faltas,
pelo teu corpo marcado,
pelas tuas cicatrizes,
pelas tuas loucuras todas, minha vida.

Eu amo as tuas mãos,
mesmo que por causa delas
eu não saiba o que fazer com as minhas.

Amo teu jogo triste.

As tuas roupas sujas
é aqui em casa que eu lavo.

Eu amo a tua alegria.

Mesmo fora de ti,
eu amo a tua essência.
Até pelo que você poderia ter sido,
se a maré das circunstâncias
não tivesse te banhado
nas águas do equívoco.

Eu te amo nas horas infernais
e na vida sem tempo, quando,
sozinha, bordo mais uma toalha de fim de semana.

Eu te amo pelas futuras rugas.

Eu te amo pelas tuas ilusões perdidas
e pelos teus sonhos inúteis.

Amo teu sistema de vida e morte.

Eu te amo pelo que se repete
e nunca é igual.

Eu te amo pelas tuas entradas,
saídas e bandeiras.

Eu te amo desde os teus pés
até o que te escapa.

Eu te amo de alma para alma.
E mais que as palavras,
ainda que seja através delas
que eu me defenda,
quando digo que te amo
mais que o silêncio dos momentos difíceis,
quando o próprio amor vacila".



Para você, amor maior... repleto da "saudade ancestral"...

terça-feira, 23 de outubro de 2007

Eu Sei que Vou Te Amar - Vinícius de Moraes

Eu sei que vou te amar
Por toda a minha vida, eu vou te amar
Em cada despedida, eu vou te amar
Desesperadamente
Eu sei que vou te amar
E cada verso meu será pra te dizer
Que eu sei que vou te amar
Por toda a minha vida...
Eu sei que vou chorar
A cada ausência tua, eu vou chorar
Mas cada volta tua há de apagar
O que essa tua ausência me causou
Eu sei que vou sofrer
A eterna desventura de viver
À espera de viver ao lado teu
Por toda a minha vida...


Pour toi... Lembrei desse poema hoje e vi que ele sintetiza tudo aquilo que eu queria que você soubesse, independente de tudo... Abimo Pectore.

segunda-feira, 22 de outubro de 2007

"Quero tanto estar por perto
Que a mim pouco importa
Se o que mata minha sede
É deserto".

De Marcos Caiado

Poesias de Marcos Caiado

às vezes você some
e fico eu só
fazendo serenata pro trombone.

por que você não pega o telefone e me liga?
por que não me escreve, ou berra o meu nome?!
- me dá um grito! -
às vezes você some e fico eu só,
neste ímpeto de querer rumar a cabeça num paralelepípedo.

amor não tem que ser suicídio,
dá meia-volta e volta.
volta ao início.

quando você desaparece,
até o travesseiro vira precipício.


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resto eu agora,
sem prumo e sem colo,
assassinando sóis no underground.

eu estou na u.t.i. com a cabeça a prêmio
e cada vez que você vem me visitar, baby,
é para desligar o balão de oxigênio.

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pensei que fosse oceano;
era só um aquário.

pensei que fosse paris;
eram os 20 watts de uma lâmpada no canto de um cenário.

pensei que fosse mozart;
eram os acordes imperfeitos
de um jingle ordinário.

pensei que fosse o pecado maior;
era o mea-culpa
de um réu-primário...

pensei que fosse você,
mas era apenas o sol.

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se eu penso em você ao meio-dia
um segundo depois são onze e vinte da noite.
tudo escurece: o mote, o norte, os montes e a luz do poste.
morre o vaga-lume, some o horizonte.

quando penso em você,
independentemente da hora,
o relógio agoniza, a lua suicida e a poesia adoece.
apenas a tristeza roça além do que não pode...
quando penso em você.

quando penso em você, a literatura se fode e,
quase, vira zero: zero vírgula,
este verso que não morde.

Los Hermanos - Fingi na hora rir

"Pois eu, eu só penso em você
Já não sei mais porque
Em ti eu consigo encontrar
Um caminho, um motivo, um lugar
Pra eu poder repousar, meu amor

Quantas horas mais vão me bater até você chegar?
Aqui meu lar deixou de ser aquilo que um dia eu construí
E eu fico sozinho, esperando pra trazer você pra mim

Sofro por saber que não sou eu quem vai te convencer
Que cada dia a mais é um dia a menos pro encontro acontecer
E eu fico sozinho, esperando por você, meu bem-querer..."



Ainda são tantas as músicas que falam de nós...

sexta-feira, 19 de outubro de 2007

Parte de nós...

"Havia a levíssima embriaguez de andarem juntos, a alegria como quando se sente a garganta um pouco seca e se vê que por admiração se estava de boca entreaberta: eles respiravam de antemão o ar que estava à frente, e ter esta sede era a própria água deles.
Andavam por ruas e ruas falando e rindo, falavam e riam para dar matéria-peso à levíssima embriaguez que era a alegria da sede deles.
Por causas dos carros e das pessoas, às vezes eles se tocavam, e ao toque - a sede é a graça, mas as águas são uma beleza de escuras - e ao toque brilhava o brilho da água deles, a boca ficando um pouco mais seca de admiração.
Como eles admiravam estarem juntos!
Até que tudo se transformou em não. Tudo se transformou em não quando eles quiseram essa mesma alegria deles. Então a grande dança dos erros. O cerimonial das palavras desacertadas. Ele procurava e não via, ela não via que ele não vira, ela que, estava ali, no entanto. No entanto ele que estava ali. Tudo errou, e havia a grande poeira das ruas, e quanto mais erravam, mas com aspereza queriam, sem um sorriso. Tudo só porque tinham prestado atenção, só porque não estava bastante distraídos. Só porque, de súbito exigentes e duros, quiseram ter o que já tinham. Tudo porque quiseram dar um nome; porque quiseram ser, eles que já eram. Foram então aprender que, não estando distraídos, o telefone não toca, e é preciso sair de casa para que a carta chegue, e quando o telefone finalmente toca, o deserto da espera já cortou os fios. Tudo, tudo por não estarem mais distraídos".


Clarice Lispector
"Enquanto eu tiver perguntas e não houver respostas, continuarei a escrever..."

Clarice Lispector


"...E desde logo desejando você, esse teu corpo que nem sequer é bonito, mas é o corpo que eu quero. Mas queri inteiro, com a alma também. Por isso não faz mal que você não venha, esperarei o tempo que for preciso..."

Clarice Lispector

"Se você não se atrasar, sou capaz de te esperar por toda a minha vida"... Oscar Wilde

terça-feira, 16 de outubro de 2007

Reconstituição - Elisa Lucinda

"Tive de repente
Uma saudade da bebida que eu estava bebendo
Tive saudade e tentei me lembrar do gosto que faltava,
qual era a bebida...
Fui procurando entre copos e móveis
e dei com sua boca.
A saudade era dela. A bebida era o beijo."



Para Jean Luvisoto...Saudade... e vontade de beber de ti... sempre.

Soneto do Corifeu - Vinícius de Moraes

São demais os perigos dessa vida
Para quem tem paixão
Principalmente quando uma lua chega de repente
E se deixa no céu como esquecida.

E se ao luar que atua, desvairado
Vem se unir uma música qualquer
Daí, então, é preciso ter cuidado
Porque deve andar perto uma mulher.

Deve andar perto uma mulher que é feita
De música, luar e sentimento
E que a vida não quer de tão perfeita

Uma mulher que é como a própria lua:
Tão linda que só espalha sofrimento,
Tão cheia de pudor que vive nua.

Os inconsoláveis - Vinícius de Moraes

Desesperados vamos pelos caminhos desertos
Sem lágrimas nos olhos
Desesperados buscamos constelações no céu enorme
E em tudo, a escuridão.
Quem nos levará à claridade?
Quem nos arrancará da visão a treva imóvel?
E falará da aurora prometida?
Procuramos em vão na multidão que segue
Um olhar que encoraje nosso olhar
Mas todos procuramos olhos esperançosos
E ninguém os encontra.
Aos que vêm a nós cheios de angústia
Mostramos a chaga interior sangrando angústias
E eles lá se vão sofrendo mais.
Aos que vão em busca de alegria
Mostramos a tristeza de nós mesmos
E eles sofrem, que eles são os infelizes
Que eles são os sem-consolo...


Quando virá o fim da noite
Para as almas que sofrem no silêncio?
Por que roubar assim a claridade
Aos pássaros da luz?
Por que fechar assim o espaço eterno
Às águias gigantescas?
Por que encadear assim à terra
Espíritos que são do imensamente alto?
Ei-la que vai, a procissão das almas
Sem gritos, sem prantos, cheia do silêncio do sofrimento
Andando pela infinita planície que leva ao desconhecido
As bocas dolorosas não cantam
Porque os olhos parados não vêem.
Tudo neles é a paralisação da dor no paroxismo
Tudo neles é a negação do anjo...


São os inconsoláveis

-águias acorrentadas pelos pés.

Escrito no Rio de Janeiro, em 1933.















são os Inconsoláveis.
- Águias acorrentadas pelos pés.
Rio de Janeiro, 1933

Dialética - Vinícius de Moraes

É claro que a vida é boa
E a alegria, a única indizível emoção.
É claro que te acho linda
E em ti bendigo o amor das coisas simples.
É claro que te amo
E tenho tudo pra ser feliz.

Mas acontece que sou triste...



Compartilhando contigo um dos meus poetas preferidos...

Hoje... pour toi, mon chér, ma vie...

"...Mas eu faço mais do que te compreender, disse ela apressada, eu te amo..."


"Eu te amo a perder de vista"
Mário Quintana



"Se estou contigo
É porque estás comigo
E nós não podemos nos perder"
Paulinho Moska


"No futuro da minha memória
Você está comigo em todo lugar"
Paulinho Moska


"Prefiro morrer de qualquer excesso a morrer de qualquer contenção"


"Meu coração vive cheio de amor e deserto... Perto de ti dança a minha alma desarmada".


"...Tudo começou com um sim".

"...que medo alegre: o de te esperar"
Clarice Lispector


"E as horas lá se vão, loucas ou tristes, mas é tão bom, em meio às horas todas, pensar em ti... saber que tu existes..."
Mário Quintana


"Ter medo não ajuda a viver".


"Amar-te foi belo porque tive a certeza de estar viva quando a morte me tocara mais vezes do que sabes..."

De mim...

Quero algo brutal, expelido das entranhas, cansei do lirismo, da poesia. Quero minha fome saciada, cansei de morrer de inanição. Cansei de arranhões, não tenho tempo, quero fratura exposta, sangue a jorrar das artérias, viscoso a limpar o chão dos meus passos trôpegos, tingindo de vermelho esse rosado esmaecido da minha vida sem você.
Quero gritos, gemidos e sussurros ferem meus ouvidos. Quero lacerações na carne, dentes afiados cravados onde lhe aprouver. Quero muito. E tenho pressa. Não tenho mais tempo, meu relógio já não conta os segundos, minutos, horas, conta atos, ainda que falhos.
Não quero beijos que não me derretam por dentro, por completo. Morda, rasgue, me retalhe em postas, não tenho mais tempo para a delicadeza. Não quero tuas palavras me chegando calmas, grite obscenidades no meu ouvido, me ensurdeça com teu silêncio, faça-me falar até gastar tudo aquilo que engoli. Quero te vomitar de mim, te dar uma outra forma que não a do amor idealizado. Aliás, não quero amor, não tenho tempo, principalmente quando me chegas toda a dor.
Quero gritar, estilhaçar espelhos em que te vejo, lançar maldições a esmo, exterminar com requintes de crueldade todos os gatos pretos, me jogar numa imensa fogueira para ver se derreto e te esqueço.
Quero partir, mesmo sem lugar para ir, você é estrada de todos os meus caminhos. Me lançaria ao mar se soubesse que vou me afogar, infelizmente, aprendi a nadar contra a maré. Quero quebrar pratos, copos, garrafas que já me embriagaram. Vazias, estão empilhadas num canto, guardam lugar para mim.
Quero fora de mim toda essa fúria que me corrói as vísceras, não tenho tempo para a morte lenta, prefiro poderosos venenos que se alastram. Desisti até dos cortes nos pulsos. Não tenho tempo.
Na verdade, quero, tanto, recostar no teu peito e poder descansar, mas nem isso... não tenho mais tempo.

Rosana Ribeiro 15.Outubro.2007

Para Jean Luvisoto. Pour toi, mon chér... minha fome, minha fúria, minha voz e meu silêncio. Dono de tudo o que há em mim. Abimo Pectore.

quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Só em Teus Braços - Tom Jobim

Sim, promessas fiz
Fiz projetos, pensei tantas coisas
E agora o coração me diz
Que só em teus braços, amor, eu ia ser feliz

Eu tenho esse amor para dar
O que é que eu vou fazer

Eu tentei esquecer
E prometi
Arrancar da minha vida esse sonho
E vem o coração e diz
Que só em teus braços, amor,
Eu posso ser feliz...
"Dize:
O vento do meu espírito
Soprou sobre a vida.
E tudo o que era efêmero
Se desfez.
E ficastes só tu, que és eterno..."


Para Jean Luvisoto. Pour toi... amor maior... a eternidade tem teu nome, teus olhos, tua cor... Abimo Pectore.
"Num deserto sem água
Numa noite sem lua
Num país sem nome
Ou numa terra nua
Por maior que seja o desespero
Nenhuma ausência é mais funda que a tua"...

Você Pode Ir Na Janela - GRAM

Se não vai
Não desvie a minha estrela
Não desloque a linha reta

Você só me fez mudar
Mas depois mudou de mim
Você quer me biografar
Mas não quer saber do fim

Mas se vai

Você pode ir na janela
Pra se amorenar no sol
Que não quer anoitecer

E ao chegar no meu jardim
Mostro as flores que falei

Vai sem duvidar
Mas se ainda faz sentido, vem
Até se for bem no final
Será mais lindo
Como a canção que um dia fiz
Pra te brindar...



Existem momentos perfeitos... olhares, sons, sóis, sábado...

quarta-feira, 10 de outubro de 2007

De mim para ele...

Amo-te. Amo-te e sou hoje toda entrega. Dei-te minhas luzes, não escondi as sombras que espreitavam pelas frestas. E me quisestes mesmo assim. Avançastes pelos meus cômodos escuros sem medo algum, singrastes meus mares bravios, enfrentastes tempestades que sou. Descobriu-me rio, fonte límpida onde matas tua sede, cachoeira onde banhas teu corpo moreno de deserto.
Amo-te e sou hoje toda espera. Horas maturando o tempo, dias que vão, noites que chegam enquanto teço em delicados fios a colcha de nossas preciosas memórias. Sou espera e ouço estalar em meu peito o eco dos teus passos.
Amo-te e sou hoje toda delicadeza. Pétalas frágeis de flor, farfalhar das asas de beija-flor, som de odes em harpa.
Amo-te e sou hoje toda lascívia. Corpo branco que te oferto, seios que te fartam, umidade entre as coxas que te enlaçam e mostram onde é teu lugar. Pêlos que se eriçam, desejo que exala pelos poros, é na minha boca que encontras o ópio para alimentar nosso vício.
Amo-te e sou hoje toda fúria, fera à espera da presa, dentes afiados cravados na tua carne, unhas que te retalham em postas, navalha esquartejando teus temores, tuas dores, teu mundo seguro. Sangro-te e sorvo das tuas veias o que me é necessário, me tornei filha de Nosferatu.
Amo-te em todas as palavras que te dou, jóias únicas incapazes de te traduzir, todas se repetem e te descrevem em belezas. Teus olhos de som e cor, melodia da tua voz que estilhaça o meu silêncio em mil pedaços, tua pele morna, teu cheiro de sal sol, teu gosto de madureza. Sei também das tuas sombras e não as temo, amo-te apenas.
Amo-te e sou hoje a fé dos cristãos, a blasfêmia mais forte dos hereges, a culpa de todos os pecadores, sou a bênção da nossa redenção.
Amo-te lembrança, presença, urgência. amo-te até naquilo que não sei, o que pressinto, o que em ti é meu espelho.
Amo-te, vivo-te, sinto-te.


Rosana Ribeiro 9.Outubro.2007

Pour toi, mon chér, ma vie... Amigo, amor, amparo, abrigo, o que existe de maior e melhor em mim desde então...

terça-feira, 9 de outubro de 2007

Eu te amo - Chico Buarque

Ah, se já perdemos a noção da hora
Se juntos já jogamos tudo fora
Me conta agora como hei de partir

Se ao te conhecer
Dei pra sonhar, fiz tantos desvarios
Rompi com o mundo, queimei meus navios
Me diz pra onde é que 'inda' posso ir

Se nós nas travessuras das noites eternas
Já confundimos tanto as nossas pernas
Diz com que pernas eu devo seguir

Se entornastes a nossa sorte pelo chão
Se na bagunça do teu coração
Meu sangue errou de veia e se perdeu

Como, se na desordem do armário embutido
Meu paletó enlaça o teu vestido
E o meu sapato inda pisa no teu

Como, se nos amamos feito dois pagãos
Teus seios ainda estão nas minhas mãos
Me explica com que cara eu vou sair

Não, acho que estás te fazendo de tonta
Te dei meus olhos pra tomares conta
Agora conta como hei de partir...
"Pensando em te matar de amor ou de dor eu te espero calada"...

Vanessa da Mata

Silêncio - Florbela Espanca

No fadário que é meu, neste penar,
Noite alta, noite escura, noite morta,
Sou o vento que geme e quer entrar,
Sou o vento que vai bater-te à porta...

Vivo longe de ti, mas que me importa?
Se eu já não vivo em mim! Ando a vaguea
Em roda à tua casa, a procurar
Beber-te a voz, apaixonada, absorta!

Estou junto de ti e nâo me vês...
Quantas vezes no livro que tu lês
Meu olhar se pousou e se perdeu!

Trago-te como um filho nos meus braços!...
E na tua casa... escuta!... Uns leves passos...
Silêncio, amor! Abre... sou eu...




Saudades - Florbela Espanca


Saudades! Sim... talvez... e por que não?...
Se o sonho foi tão alto e forte
Que pensava vê-lo até à morte
Deslumbrar-me de luz o coração!

Esquecer? Para quê?... Ah, como é vão!...
Que tudo isso, amor, não nos importe
Se ele deixou beleza que conforte
Deve-nos ser sagrado como o pão.

Quantas vezes, amor, já te esqueci,
Para mais doidamente me lembrar
Mais decididamente me lembrar de ti!

E quem dera fosse sempre assim:
Quanto menos quisesse recordar
Mais saudade andasse presa a mim!

Poema

"Trago comigo um retrato
Que me carrega com ele bem antes
De o possuir bem depois de o ter perdido.
Toda felicidade é memória e projeto".



Capa e Espada

"Meu amor sentindo-se incapaz de ser amada
levanta herméticos escudos e duendes a qualquer dádiva
que de mim - ai de mim! - possa brotar

nada mais ameaçador que os olhos do amor".


Amor, amor (música)

quando o mar
quando o mar tem mais segredo
não é quando ele se agita nem é quando é tempestade
nem é quando é ventania
quando o mar tem mais segredo é quando é calmaria

quando o amor
quando o amor tem mais perigo
não é quando ele se arrisca nem é quando ele se ausenta
nem quando eu me desespero
quando o amor tem mais perigo é quando ele é sincero.



De uma vez por todas (música)


Mais uma vez
Última vez
Agora é pra valer
Eu já tentei
Acreditei
Fiz o que pude fazer
Vem me dizer
Se você vem outra vez
Ou não
Última vez
Quem sabe amanhã
Não mais seremos ninguém
De uma vez
Perdidos pra sempre de nós
Não há nada a temer
É só querer outra vez.


Textos de Antônio Carlos Ferreira de Brito, o Cacaso, poeta e compositor.

Compartilhando...

"Que coisas são essas que me dizes sem dizer, escondidas atrás do que realmente quer dizer?
Tenho me confundido na tentativa de te decifrar, todos os dias. Mas confuso, perdido, sozinho, minha única certeza é de que cada dia aumenta mais a minha necessidade de ti. Torna-se desesperada, urgente. Eu já não sei o que faço. Não sinto nenhuma alegria além de ti.
Como pude cair assim nesse fundo poço? Quando foi que me desequilibrei? Não quero me afogar: quero beber tua água. Não te negues, minha sede é clara".

De Caio Fernando Abreu, escritor gaúcho.

segunda-feira, 8 de outubro de 2007

Nada do que fizessem dali para a frente conteria o que sentiam. Não havia necessidade de álcool ou qualquer entorpecente. A paixão já os embriagava de tal maneira que nem mesmo o alimento era preciso. Alimentavam-se de si mesmos. Sorviam as palavras que proferiam e, com o otimismo típico dos ingênuos que se apaixonam, tentavam enganar e reter o próprio tempo que insistia em transcorrer tal qual a realidade, depressa demais.
O sexo era só o alívio, o que importava, na verdade, era a presença. Estar diante do outro, para o outro era o que cada um precisava. Nada havia de sublime na conjunção carnal. Não eram transportados para nenhum estágio mágico, ao contrário, eram transportados ao próprio inferno deles, pois quanto mais se possuíam, mais se queriam. Mais necessários eram um para o outro, numa constante e dolorosa busca. Precisavam também do mundo fora deles, ainda que o repudiassem com veemência, apenas para poder se entorpecer com o ópio daquele sentimento que não tinha nome.
E só a tola esperança já os fazia crer que eram fortes o bastante para vencerem o mundo em que viviam. Tolamente acreditaram que seguiriam em frente juntos, por todo tempo, sem qualquer obstáculo, dispostos a enfrentar todo temor. Até que se assustaram com a imensurável força do destino, contra o qual eles nada eram. Deu-se então a dança dos erros. Nunca propositais. Apaixonados nunca erram de propósito, erram apenas com o louco propósito de reter para si o outro.
Amaldiçoaram o sentimento que os fazia melhores, únicos, lutaram contra si mesmos, renegaram-se e repeliram-se pela ilusão das mentiras, pelo medo da dor, do infortúnio e do próprio amor. Revelaram-se, um para o outro, monstros ferozes que eram lutando por si mesmos, e dessa vez, contra si mesmos.
Mascararam a paixão com mágoa. Odiaram-se. Fizeram-se indiferentes um para o outro. MOrriam a cada dia de fome e sede diante do banquete que eram eles. Talvez até chorassem sozinhos na solidão dos seus quartos, no escuro silêncio da noite quando julgavam que não podiam ser ouvidos.
À parte a dor, procuravam-se todos os dias nos detalhes cotidianos, sem que um soubesse da busca do outro. Armaram-se com outras pessoas num gesto desesperado por proteção, querendo, no fundo, apenas sentirem-se seguros e menos dilacerados pela dor da ausência. Mentiram para si mesmos que a vida continuaria igual e talvez até melhor, mas já não se importavam em crer.
Ainda assim, queriam quase com total desespero, estar juntos mais uma vez. Como se nessa única vez pudessem dizer tudo o que não fora dito, desfazer todos os mal-entendidos, reconhecer que o sentimento vivia e seguia com eles. Precisavam, apenas, mais uma vez, vampirizarem-se, resgatando no outro a própria força. Eles podiam. Só não sabiam como. Porque uma vez haviam sido cegos pela paixão que esconde as sombras.
Então seguiram, cada qual com sua mortalha no meio dos outros que nada sabiam por não terem amado daquela maneira.
E, por mais distantes que julgassem estar um do outro, estava, cada vez mais perto, mais atentos, mais amargos, mais conformados com o destino. Mais sozinhos. Tudo porque haviam se perdido e sabiam o caminho de volta.


Rosana Ribeiro 12.Agosto.2006

Para Jean Luvisoto. Pour toi, mon chér.

sábado, 6 de outubro de 2007

Tuas Fotos - Pública

Tuas fotos, nossa história
Tão alheia às insatisfações
Procurando nos teus braços
O orgulho que perdi
Nada como o sol transformador
Nada como o sol
Transforma a dor em manhã...

sexta-feira, 5 de outubro de 2007

Gostaria - J.G. de Araújo Jorge

Queria compartilhar contigo os momentos mais simples e sem importância.
Por exemplo: sair contigo para passear, sentir-te apoiada em meu braço, ver-te feliz ao meu lado alheia a todo mundo que passasse.
Gostaria de sair contigo para ouvir música, ir ao cinema, tomar sorvete, sentar num restaurante diante do mar,olhar as coisas, olhar a vida, olhar o mundo, despreocupadamente, e conversar sobre "nós" - esse "nós" clandestino que se divide em "tu e eu"quando chega gente.
Encontrar alguém que perguntasse: "Então, como vão vocês?"e me chamasse pelo nome, e te chamasse pelo nome e juntasse assim nossos nomes, naturalmente, na mesma preocupação.
Gostaria de poder de repente te dizer:- Vamos voltar pra casa...( Como se felicidade pudesse ser uma coisa a que tivéssemos direito como toda gente.).

terça-feira, 2 de outubro de 2007

"Deixei que fosse embora, achando que você era pouco. Pequena gota.
Deixei que fosse embora, sem saber que eu secaria com o tempo.
Que viraria deserto."

Do blog "Coisas da Gaveta"

Lâmina

"E quando menos se espera, acontece uma outra vez. Palavras. Promessas. Tapete vermelho, estendido por metros, tornando o chão macio. Sem obstáculos. Maquiando a terra, imunda, que existe por baixo dos sapatos. Sempre assim. De repente. Quando menos se espera, o caminho, que parecia levar para um lado, oferece outro fim. Morro por isso. Mais uma vez. Por acreditar no que havia me garantido. Mentiras entre sorrisos. Morro mais uma vez por não imaginar que suas mãos me traziam até aqui. Guilhotina. Cabeça apoiada, mãos acorrentadas, morro mais uma vez com a queda repentina desta lâmina. Golpe que me divide em dois."

De Eduardo Baszczyn

Vômito

"Ler é o alimento de quem escreve. Se não gostar de ler, como vai gostar de escrever? Ou escreva, então, para destruir o texto. Mas alimente-se. Fartamente. Depois vomite. Pra mim, e isso pode ser muito pessoal, escrever é enfiar um dedo na garganta. Depois, claro, você peneira essa gosma, amolda-a, transforma. Pode sair até uma flor. Mas o momento decisivo é o dedo na garganta."


De Caio Fernando Abreu

Metades

"Porque, há muito, eu erro a mão. A dose. Esqueço a receita do equilíbrio. O quanto uso das partes que brigam dentro de mim. Há muito, eu me confundo. Porque metade não tem medo e levanta os braços, na descida da montanha-russa. Olhos abertos, enquanto outra acha melhor enfrentar a queda com as mãos na barra. Segurando forte. Espremendo os dois olhos, fechados, desde o começo do percurso. Metade prefere brincar na beira da praia. No raso. Enquanto outra não vê problemas em pular dezenas de ondas e nadar onde a pequena bandeira vermelha, agitada pelo vento, avisa sobre o risco. Sobre o possível afogamento. Porque, há muito, eu erro a receita do equilíbrio. Uso a parte que não deveria na hora em que não poderia. Me confundo com as metades que brigam dentro de mim. Porque parte acelera na estrada, no momento da curva fechada.Pé direito até o fim, enquanto outra freia, bruscamente, ao ver a primeira placa. Seta torta, avisando sobre o perigo. Metade não suporta a burrice, a pequenez, a lerdeza. Outra, sempre calada, tolera a banalidade. Engole a ignorância. Convive com a mediocridade. Há muito, eu erro a mão. A dose. Me confundo com o que devo usar. Porque metade briga. Explode. Dedo apontado na cara, enquanto outra se recolhe, quieta, debaixo da cama. No quarto fechado. No tudo escuro. Metade berra. Outra sussurra. Tenho uma parte que acredita em finais felizes. Em beijo antes dos créditos, enquanto outra acha que só se ama errado. Tenho uma metade que mente, trai, engana. Outra que só conhece a verdade. Uma parte que precisa de calor, carinho, pés com pés. Outra que sobrevive sozinha. Metade auto-suficiente. Mas, há muito, eu erro a mão. A dose. Esqueço a receita do equilíbrio. Me perco. Há dias em que uso a metade que não poderia. Dias em que me arrependo de ter usado a que não gostaria. Porque elas brigam dentro de mim, as metades. Há algumas mais fortes. Outras ferozes. Há partes quase indomáveis. Metades que me fazem sofrer nessa luta diária. No não deixar que uma mate a outra."

De Eduardo Baszczyn

Ponto

"É por saber como tudo termina, que abandono esta história por aqui. Incompleta. Eu, hoje, corto dois pontos dessas nossas reticências e deixo apenas um. O final."

De Eduardo Baszczyn

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

Dele

"Ela parece verdadeira
Tem sabor verdadeiro
Meu amor artificial de plástico
Não posso evitar o sentimento
Eu poderia explodir pelo teto se eu tentar fugir disso tudo
Mas isso me desgasta,
Pelo menos se eu pudesse ser quem você queria que eu fosse o tempo todo... o tempo todo..."


Bebo tuas palavras de maneira sôfrega e me surpreendo sempre... porque tu sempre fostes quem eu queria o tempo todo... todo o tempo...
Abimo Pectore.