terça-feira, 9 de outubro de 2007

Silêncio - Florbela Espanca

No fadário que é meu, neste penar,
Noite alta, noite escura, noite morta,
Sou o vento que geme e quer entrar,
Sou o vento que vai bater-te à porta...

Vivo longe de ti, mas que me importa?
Se eu já não vivo em mim! Ando a vaguea
Em roda à tua casa, a procurar
Beber-te a voz, apaixonada, absorta!

Estou junto de ti e nâo me vês...
Quantas vezes no livro que tu lês
Meu olhar se pousou e se perdeu!

Trago-te como um filho nos meus braços!...
E na tua casa... escuta!... Uns leves passos...
Silêncio, amor! Abre... sou eu...




Saudades - Florbela Espanca


Saudades! Sim... talvez... e por que não?...
Se o sonho foi tão alto e forte
Que pensava vê-lo até à morte
Deslumbrar-me de luz o coração!

Esquecer? Para quê?... Ah, como é vão!...
Que tudo isso, amor, não nos importe
Se ele deixou beleza que conforte
Deve-nos ser sagrado como o pão.

Quantas vezes, amor, já te esqueci,
Para mais doidamente me lembrar
Mais decididamente me lembrar de ti!

E quem dera fosse sempre assim:
Quanto menos quisesse recordar
Mais saudade andasse presa a mim!

Nenhum comentário: