domingo, 17 de julho de 2011

Igual a Qualquer Um...





Melhor que eu não te conte novidades,
Nem diga nada muito diferente,
Nem faça teorias sobre a gente,
Nem fale dessa angústia que me invade.
Melhor juntar palavras já testadas:
Amor, Saudade, Beijo, Despedida.
Um saco de figuras repetidas,
Tão gastas que já não te digam nada.
Pois só o que for extremamente fácil,
banal como as canções do rádio,
Replay de algum clichê, lugar-comum
E nunca retratar a nossa vida,
Vai te deixar feliz e comovida
E te fazer igual a qualquer um

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Da Queda



Seus olhos perdiam-se na janela próxima sem na verdade fixarem-se em algum ponto específico. Olhava através da janela, é verdade, mas nada via. Sentia o frio subir-lhe pelos pés, mas também não se importava. Às vezes os ossos doíam, mas até a isso acostumara-se. Ela, que já caíra tanto, vezes sem conta a ponto de nem mesmo poder mensurar qual teria sido a mais dolorosa delas, estava arrasada. Não havia outra palavra para descrevê-la...há muitos dias...meses...
A dor da alma transparecia no olhar, hoje vago, distante, sem brilho algum. Não havia vontade. Não havia mais motivos. Ela apenas esperava o transcorrer lento das horas. Uma agonia cruel e sem fim. As horas arrastavam-se para se tornarem dias...os dias, semanas...as semanas, meses... e ela sabia que sobreviveria... Seu corpo era sua casca... Por dentro, nada. Tudo oco. Vazio. Desprovido de cor, forma, sentido. Nem mesmo ela se habitava... E também não se encontrava em lugar algum. Levaram-na de si mesma. Talvez tivesse sido ele, ao levar consigo o que havia de maior para si, que era ele mesmo nela, ela mesma nele. Ela olhava em volta... Sua vontade era gritar, mas sabia que ninguém jamais a ouviria. Ninguém entenderia. Ninguém saberia...
A dor explodia em si milhares de vezes ao longo dos dias que se acumulavam em sua vida. Cinzentos. Completamente ausentes de cor. Mas sentia a própria dor vermelha dentro de si. Sangrenta. Escorrendo viscosa por todas as suas paredes como se cães famintos com presas afiadas lhe dilacerassem a carne. Sua dor era quente. Era lenta. Era funda. Era a dor de parir ao revés. Sua dor era pior que a dor irremediável da morte. E ela mantinha o silêncio. Os olhos perdidos na janela próxima.
Vez em quando percebia que até mesmo as lembranças esmaeciam-se em si. Talvez ele tivesse levado até mesmo elas... Tirara-lhe tudo... O que ficara era pouco. Era nada. Era só vazio e dor.
Quando atrevera-se a caminhar, foi como pisar em cacos de vidros, navalhas, lanças envenenadas. Algumas vezes ela tentara. Até por fim desistir. Sabia-se aleijada. Mutilada de forma irreparável, irremediável... Insuportável. Claro, restara-lhe os pés. Mas desaprendera os passos para seguir qualquer caminho. Restara-lhe os escombros que, vez por outra, quando os olhos corriam ao redor como a buscar algo que sabia não se encontrar mais ali, contemplava, ainda estarrecida, como se fosse incapaz de compreender tamanha destruição. Os ingênuos realmente são assim. Custam a crer nos abismos aos quais são lançados de maneira impiedosa...covarde...cruel...
Sabia que parecia louca. A dor a enlouquecera. E enlouquecia ainda, cada hora um tanto mais. Não se reconhecia ao olhar-se no espelho. O que via ainda era ele. Mas quem era ele? Ela não sabia...Não sabia mais... Perdera a conta de quantos espelhos estilhaçara pela casa ao deparar-se com aqueles olhos de brilho ambarino...olhos de som e cor... Não mais queria vê-los e agora eram milhares de olhos encarando-a nos cacos de vidro pelo chão. As vagas lembranças que ainda permaneciam costuradas às costas pesavam hoje como mortalhas. Quando cansava-se de lutar contra o pouco que lhe restara, deitava exausta no chão entre víboras, escorpiões, ratos que roíam as sobras que ele lhe deixara por herança. Sobre as sombras que ainda teimavam em habitar a casa, ainda sentia o cheiro dele. Impregnava seus pulmões. O cheiro de sal e sol...
Já não havia pão, pele, leito, fome, vida. Havia o frio, cada vez mais intenso lá fora. Ela sentia penetrar-lhe nos pés descalços. Via a noite adentrar o céu pela janela. Ainda que não importasse, via. Cegara-se para o mundo, era verdade. Mas fingia. Fingia que via. Fingia que estava ali. Fingia que vivia ali. Ninguém percebia que seu corpo era hoje o sepulcro da alma morta... A mentira evapora. Fora apenas isso que ele lhe deixara...


Rosana Ribeiro 06.julho.2011

Para Jean Luvisoto... Mesmo agora...

Adeus você - Los Hermanos



"...não pensa que eu fui por não te amar"...

Do Outro



"...todo jardim é um caminho sem volta..."
Jean Luvisoto

Pra pensar...



'Há pessoas que se contentam com o que suas mãos alcançam.
Outras, almas inquietas, trazem em si a urgência visceral de ir além.
Sabem que cada momento da busca tem uma razão, principalmente os difíceis (sem dúvida eles existirão).
Seguem ao encontro da plenitude, mesmo sem saber se ela é um delírio ou uma conquista pessoal possível.
Será esse o quinhão de prazer que nos cabe? Como saber se é melhor ficar com o que quase nos satisfaz ou arriscar conseguir o que realmente se deseja?
Como ter certeza de que o prêmio vale o perigo?
Não dá pra ter certeza, o negócio é baseado no risco.
E é quando arriscamos topar com a dor que nos tornamos inteiros.
Só no instante em que decidirmos viver plenamente é que poderemos, enfim, começar a ser felizes.''

(Ailin Aleixo - escritora de Só os idiotas são felizes)

sábado, 2 de julho de 2011

Porque há a saudade...o cansaço...a dor...e o amor...abimo pectore.


"...Eu quero descansar no teu peito
O cansaço dessa vida e o peso de ter que ser alguém
Eu já não sei o que faço, meu bem
Nem o que farei...

Mas se você quiser e vier
Pro que der e vier comigo
Eu posso ser o teu abrigo..."