segunda-feira, 26 de novembro de 2007

"...E se as luzes nos roubassem as estrelas

e nosso brilho só nos mostrasse

a silhueta do que poderíamos ser

eu já estive pior e agora posso entender

para clarear o meu tormento

como flores nas encostas do cimento



Antes que o samba vire só um ruído de fundo

eu vou tocar mais alto para ouvir meu coração

porque não existe enredo do inferno que me tire a emoção "

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Tristesse - Milton Nascimento

Como você pode pedir
Pra eu falar do nosso amor
Que foi tão forte e ainda é
Mas cada um se foi...

Quanta saudade brilha em mim
Se cada sonho é seu
Virou história em sua vida
Mas pra mim não morreu

Lembra, lembra, lembra, cada instante que passou
De cada perigo, da audácia, do temor
Que sobrevivemos, que cobrimos de emoção
Volta a pensar, então

Sinto, penso, espero, fico tenso toda vez
Que nos encontramos, nos olhamos sem viver
Pára de fingir que não sou parte do seu mundo
Volta a pensar, então...


Há dias penso em te apresentar essa música... apenas mais uma que fala de nós...

terça-feira, 13 de novembro de 2007

Da Perda

Amanheci deserto, assolada pela destruição das tuas próprias mãos. Nem mesmo teu nome, asas de pássaro pousadas sobre meus lábios, minha mais fervorosa prece, nem ele amenizara a dor do golpe fatal. E eu ainda sangrava por tantos outros...
Amanheci silêncio, deserção das palavras, ecos surdos de todos os meus gritos mudos, nó apertado na garganta a ponto de matar em asfixia. E por dentro eu já estava meio morta...
Amanheci desolação, choro sentido irrompendo em soluços, inseto preso na teia resignado com seu próprio fim. E eu ainda esperava poder fugir...
Amanheci dores de todas as chagas, feridas expostas, lacerações na carne, amputação a sangue frio. Eu, que ainda recolhia meus cacos pelo caminho...
Amanheci nua das minhas saudades, repleta ainda de ti, obrigada a ouvir o eco dos teus passos emudecendo ante a paisagem devastada que era eu. Eu, que pertenci apenas a ti, já não sabia que rumo seguir. Perdida, exilada de ti, o que era eu? Inseto, estrela, nuvem negra? Não sei... por isso me calei...

Rosana Ribeiro Pelotas/RS 12.Novembro.2007

P/ Jean Luvisoto, minha prisão perpétua...

terça-feira, 30 de outubro de 2007

Sem Fantasia - Chico Buarque

Vem,
Meu menino vadio
Vem,
Sem mentir pra você
Vem,
Mas vem sem fantasia
Que da noite pro dia você não vai crescer
Vem,
Por favor não evites
Meu amor, meus convites
Minha dor, meus apelos
Vou tem envolver nos cabelos
Vem perder-te em meus braços
Pelo amor de Deus
Vem, que eu te quero fraco
Vem, que eu te quero tolo
Vem, que eu te quero todo meu
Ah, eu quero te dizer
Que o instante de te ver custou tanto penar
Não vou me arrepender,
Só vim te convencer que eu vim pra não morrer
De tanto te esperar
Eu quero te contar das chuvas que apanhei
Das noites que varei no escuro a te buscar
Eu quero te mostrar as marcas que ganhei
Nas lutas contra o rei
Nas discussões com Deus
E agora que eu cheguei
Eu quero a recompensa
Eu quero a prenda imensa dos carinhos teus...


Para Jean Luvisoto. Pour toi, mon coeur...mon petit avec le nom français... sempre, porque só tu podes entender aquilo que eu ainda não disse, mas deixo transparecer nos olhos...

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

"Eu sei que atrás desse universo de aparências,
Das diferenças todas,
A esperança é preservada.

Nas xícaras sujas de ontem
o café da manhã é servido.
Mas existe uma palavra que não suporto ouvir,
e dela não me conformo.

Eu acredito em tudo,
mas quero você agora.

Eu te amo pelas tuas faltas,
pelo teu corpo marcado,
pelas tuas cicatrizes,
pelas tuas loucuras todas, minha vida.

Eu amo as tuas mãos,
mesmo que por causa delas
eu não saiba o que fazer com as minhas.

Amo teu jogo triste.

As tuas roupas sujas
é aqui em casa que eu lavo.

Eu amo a tua alegria.

Mesmo fora de ti,
eu amo a tua essência.
Até pelo que você poderia ter sido,
se a maré das circunstâncias
não tivesse te banhado
nas águas do equívoco.

Eu te amo nas horas infernais
e na vida sem tempo, quando,
sozinha, bordo mais uma toalha de fim de semana.

Eu te amo pelas futuras rugas.

Eu te amo pelas tuas ilusões perdidas
e pelos teus sonhos inúteis.

Amo teu sistema de vida e morte.

Eu te amo pelo que se repete
e nunca é igual.

Eu te amo pelas tuas entradas,
saídas e bandeiras.

Eu te amo desde os teus pés
até o que te escapa.

Eu te amo de alma para alma.
E mais que as palavras,
ainda que seja através delas
que eu me defenda,
quando digo que te amo
mais que o silêncio dos momentos difíceis,
quando o próprio amor vacila".



Para você, amor maior... repleto da "saudade ancestral"...

terça-feira, 23 de outubro de 2007

Eu Sei que Vou Te Amar - Vinícius de Moraes

Eu sei que vou te amar
Por toda a minha vida, eu vou te amar
Em cada despedida, eu vou te amar
Desesperadamente
Eu sei que vou te amar
E cada verso meu será pra te dizer
Que eu sei que vou te amar
Por toda a minha vida...
Eu sei que vou chorar
A cada ausência tua, eu vou chorar
Mas cada volta tua há de apagar
O que essa tua ausência me causou
Eu sei que vou sofrer
A eterna desventura de viver
À espera de viver ao lado teu
Por toda a minha vida...


Pour toi... Lembrei desse poema hoje e vi que ele sintetiza tudo aquilo que eu queria que você soubesse, independente de tudo... Abimo Pectore.

segunda-feira, 22 de outubro de 2007

"Quero tanto estar por perto
Que a mim pouco importa
Se o que mata minha sede
É deserto".

De Marcos Caiado

Poesias de Marcos Caiado

às vezes você some
e fico eu só
fazendo serenata pro trombone.

por que você não pega o telefone e me liga?
por que não me escreve, ou berra o meu nome?!
- me dá um grito! -
às vezes você some e fico eu só,
neste ímpeto de querer rumar a cabeça num paralelepípedo.

amor não tem que ser suicídio,
dá meia-volta e volta.
volta ao início.

quando você desaparece,
até o travesseiro vira precipício.


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resto eu agora,
sem prumo e sem colo,
assassinando sóis no underground.

eu estou na u.t.i. com a cabeça a prêmio
e cada vez que você vem me visitar, baby,
é para desligar o balão de oxigênio.

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pensei que fosse oceano;
era só um aquário.

pensei que fosse paris;
eram os 20 watts de uma lâmpada no canto de um cenário.

pensei que fosse mozart;
eram os acordes imperfeitos
de um jingle ordinário.

pensei que fosse o pecado maior;
era o mea-culpa
de um réu-primário...

pensei que fosse você,
mas era apenas o sol.

........................................................................................................................................................................


se eu penso em você ao meio-dia
um segundo depois são onze e vinte da noite.
tudo escurece: o mote, o norte, os montes e a luz do poste.
morre o vaga-lume, some o horizonte.

quando penso em você,
independentemente da hora,
o relógio agoniza, a lua suicida e a poesia adoece.
apenas a tristeza roça além do que não pode...
quando penso em você.

quando penso em você, a literatura se fode e,
quase, vira zero: zero vírgula,
este verso que não morde.

Los Hermanos - Fingi na hora rir

"Pois eu, eu só penso em você
Já não sei mais porque
Em ti eu consigo encontrar
Um caminho, um motivo, um lugar
Pra eu poder repousar, meu amor

Quantas horas mais vão me bater até você chegar?
Aqui meu lar deixou de ser aquilo que um dia eu construí
E eu fico sozinho, esperando pra trazer você pra mim

Sofro por saber que não sou eu quem vai te convencer
Que cada dia a mais é um dia a menos pro encontro acontecer
E eu fico sozinho, esperando por você, meu bem-querer..."



Ainda são tantas as músicas que falam de nós...

sexta-feira, 19 de outubro de 2007

Parte de nós...

"Havia a levíssima embriaguez de andarem juntos, a alegria como quando se sente a garganta um pouco seca e se vê que por admiração se estava de boca entreaberta: eles respiravam de antemão o ar que estava à frente, e ter esta sede era a própria água deles.
Andavam por ruas e ruas falando e rindo, falavam e riam para dar matéria-peso à levíssima embriaguez que era a alegria da sede deles.
Por causas dos carros e das pessoas, às vezes eles se tocavam, e ao toque - a sede é a graça, mas as águas são uma beleza de escuras - e ao toque brilhava o brilho da água deles, a boca ficando um pouco mais seca de admiração.
Como eles admiravam estarem juntos!
Até que tudo se transformou em não. Tudo se transformou em não quando eles quiseram essa mesma alegria deles. Então a grande dança dos erros. O cerimonial das palavras desacertadas. Ele procurava e não via, ela não via que ele não vira, ela que, estava ali, no entanto. No entanto ele que estava ali. Tudo errou, e havia a grande poeira das ruas, e quanto mais erravam, mas com aspereza queriam, sem um sorriso. Tudo só porque tinham prestado atenção, só porque não estava bastante distraídos. Só porque, de súbito exigentes e duros, quiseram ter o que já tinham. Tudo porque quiseram dar um nome; porque quiseram ser, eles que já eram. Foram então aprender que, não estando distraídos, o telefone não toca, e é preciso sair de casa para que a carta chegue, e quando o telefone finalmente toca, o deserto da espera já cortou os fios. Tudo, tudo por não estarem mais distraídos".


Clarice Lispector
"Enquanto eu tiver perguntas e não houver respostas, continuarei a escrever..."

Clarice Lispector


"...E desde logo desejando você, esse teu corpo que nem sequer é bonito, mas é o corpo que eu quero. Mas queri inteiro, com a alma também. Por isso não faz mal que você não venha, esperarei o tempo que for preciso..."

Clarice Lispector

"Se você não se atrasar, sou capaz de te esperar por toda a minha vida"... Oscar Wilde

terça-feira, 16 de outubro de 2007

Reconstituição - Elisa Lucinda

"Tive de repente
Uma saudade da bebida que eu estava bebendo
Tive saudade e tentei me lembrar do gosto que faltava,
qual era a bebida...
Fui procurando entre copos e móveis
e dei com sua boca.
A saudade era dela. A bebida era o beijo."



Para Jean Luvisoto...Saudade... e vontade de beber de ti... sempre.

Soneto do Corifeu - Vinícius de Moraes

São demais os perigos dessa vida
Para quem tem paixão
Principalmente quando uma lua chega de repente
E se deixa no céu como esquecida.

E se ao luar que atua, desvairado
Vem se unir uma música qualquer
Daí, então, é preciso ter cuidado
Porque deve andar perto uma mulher.

Deve andar perto uma mulher que é feita
De música, luar e sentimento
E que a vida não quer de tão perfeita

Uma mulher que é como a própria lua:
Tão linda que só espalha sofrimento,
Tão cheia de pudor que vive nua.

Os inconsoláveis - Vinícius de Moraes

Desesperados vamos pelos caminhos desertos
Sem lágrimas nos olhos
Desesperados buscamos constelações no céu enorme
E em tudo, a escuridão.
Quem nos levará à claridade?
Quem nos arrancará da visão a treva imóvel?
E falará da aurora prometida?
Procuramos em vão na multidão que segue
Um olhar que encoraje nosso olhar
Mas todos procuramos olhos esperançosos
E ninguém os encontra.
Aos que vêm a nós cheios de angústia
Mostramos a chaga interior sangrando angústias
E eles lá se vão sofrendo mais.
Aos que vão em busca de alegria
Mostramos a tristeza de nós mesmos
E eles sofrem, que eles são os infelizes
Que eles são os sem-consolo...


Quando virá o fim da noite
Para as almas que sofrem no silêncio?
Por que roubar assim a claridade
Aos pássaros da luz?
Por que fechar assim o espaço eterno
Às águias gigantescas?
Por que encadear assim à terra
Espíritos que são do imensamente alto?
Ei-la que vai, a procissão das almas
Sem gritos, sem prantos, cheia do silêncio do sofrimento
Andando pela infinita planície que leva ao desconhecido
As bocas dolorosas não cantam
Porque os olhos parados não vêem.
Tudo neles é a paralisação da dor no paroxismo
Tudo neles é a negação do anjo...


São os inconsoláveis

-águias acorrentadas pelos pés.

Escrito no Rio de Janeiro, em 1933.















são os Inconsoláveis.
- Águias acorrentadas pelos pés.
Rio de Janeiro, 1933

Dialética - Vinícius de Moraes

É claro que a vida é boa
E a alegria, a única indizível emoção.
É claro que te acho linda
E em ti bendigo o amor das coisas simples.
É claro que te amo
E tenho tudo pra ser feliz.

Mas acontece que sou triste...



Compartilhando contigo um dos meus poetas preferidos...

Hoje... pour toi, mon chér, ma vie...

"...Mas eu faço mais do que te compreender, disse ela apressada, eu te amo..."


"Eu te amo a perder de vista"
Mário Quintana



"Se estou contigo
É porque estás comigo
E nós não podemos nos perder"
Paulinho Moska


"No futuro da minha memória
Você está comigo em todo lugar"
Paulinho Moska


"Prefiro morrer de qualquer excesso a morrer de qualquer contenção"


"Meu coração vive cheio de amor e deserto... Perto de ti dança a minha alma desarmada".


"...Tudo começou com um sim".

"...que medo alegre: o de te esperar"
Clarice Lispector


"E as horas lá se vão, loucas ou tristes, mas é tão bom, em meio às horas todas, pensar em ti... saber que tu existes..."
Mário Quintana


"Ter medo não ajuda a viver".


"Amar-te foi belo porque tive a certeza de estar viva quando a morte me tocara mais vezes do que sabes..."

De mim...

Quero algo brutal, expelido das entranhas, cansei do lirismo, da poesia. Quero minha fome saciada, cansei de morrer de inanição. Cansei de arranhões, não tenho tempo, quero fratura exposta, sangue a jorrar das artérias, viscoso a limpar o chão dos meus passos trôpegos, tingindo de vermelho esse rosado esmaecido da minha vida sem você.
Quero gritos, gemidos e sussurros ferem meus ouvidos. Quero lacerações na carne, dentes afiados cravados onde lhe aprouver. Quero muito. E tenho pressa. Não tenho mais tempo, meu relógio já não conta os segundos, minutos, horas, conta atos, ainda que falhos.
Não quero beijos que não me derretam por dentro, por completo. Morda, rasgue, me retalhe em postas, não tenho mais tempo para a delicadeza. Não quero tuas palavras me chegando calmas, grite obscenidades no meu ouvido, me ensurdeça com teu silêncio, faça-me falar até gastar tudo aquilo que engoli. Quero te vomitar de mim, te dar uma outra forma que não a do amor idealizado. Aliás, não quero amor, não tenho tempo, principalmente quando me chegas toda a dor.
Quero gritar, estilhaçar espelhos em que te vejo, lançar maldições a esmo, exterminar com requintes de crueldade todos os gatos pretos, me jogar numa imensa fogueira para ver se derreto e te esqueço.
Quero partir, mesmo sem lugar para ir, você é estrada de todos os meus caminhos. Me lançaria ao mar se soubesse que vou me afogar, infelizmente, aprendi a nadar contra a maré. Quero quebrar pratos, copos, garrafas que já me embriagaram. Vazias, estão empilhadas num canto, guardam lugar para mim.
Quero fora de mim toda essa fúria que me corrói as vísceras, não tenho tempo para a morte lenta, prefiro poderosos venenos que se alastram. Desisti até dos cortes nos pulsos. Não tenho tempo.
Na verdade, quero, tanto, recostar no teu peito e poder descansar, mas nem isso... não tenho mais tempo.

Rosana Ribeiro 15.Outubro.2007

Para Jean Luvisoto. Pour toi, mon chér... minha fome, minha fúria, minha voz e meu silêncio. Dono de tudo o que há em mim. Abimo Pectore.

quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Só em Teus Braços - Tom Jobim

Sim, promessas fiz
Fiz projetos, pensei tantas coisas
E agora o coração me diz
Que só em teus braços, amor, eu ia ser feliz

Eu tenho esse amor para dar
O que é que eu vou fazer

Eu tentei esquecer
E prometi
Arrancar da minha vida esse sonho
E vem o coração e diz
Que só em teus braços, amor,
Eu posso ser feliz...
"Dize:
O vento do meu espírito
Soprou sobre a vida.
E tudo o que era efêmero
Se desfez.
E ficastes só tu, que és eterno..."


Para Jean Luvisoto. Pour toi... amor maior... a eternidade tem teu nome, teus olhos, tua cor... Abimo Pectore.
"Num deserto sem água
Numa noite sem lua
Num país sem nome
Ou numa terra nua
Por maior que seja o desespero
Nenhuma ausência é mais funda que a tua"...

Você Pode Ir Na Janela - GRAM

Se não vai
Não desvie a minha estrela
Não desloque a linha reta

Você só me fez mudar
Mas depois mudou de mim
Você quer me biografar
Mas não quer saber do fim

Mas se vai

Você pode ir na janela
Pra se amorenar no sol
Que não quer anoitecer

E ao chegar no meu jardim
Mostro as flores que falei

Vai sem duvidar
Mas se ainda faz sentido, vem
Até se for bem no final
Será mais lindo
Como a canção que um dia fiz
Pra te brindar...



Existem momentos perfeitos... olhares, sons, sóis, sábado...

quarta-feira, 10 de outubro de 2007

De mim para ele...

Amo-te. Amo-te e sou hoje toda entrega. Dei-te minhas luzes, não escondi as sombras que espreitavam pelas frestas. E me quisestes mesmo assim. Avançastes pelos meus cômodos escuros sem medo algum, singrastes meus mares bravios, enfrentastes tempestades que sou. Descobriu-me rio, fonte límpida onde matas tua sede, cachoeira onde banhas teu corpo moreno de deserto.
Amo-te e sou hoje toda espera. Horas maturando o tempo, dias que vão, noites que chegam enquanto teço em delicados fios a colcha de nossas preciosas memórias. Sou espera e ouço estalar em meu peito o eco dos teus passos.
Amo-te e sou hoje toda delicadeza. Pétalas frágeis de flor, farfalhar das asas de beija-flor, som de odes em harpa.
Amo-te e sou hoje toda lascívia. Corpo branco que te oferto, seios que te fartam, umidade entre as coxas que te enlaçam e mostram onde é teu lugar. Pêlos que se eriçam, desejo que exala pelos poros, é na minha boca que encontras o ópio para alimentar nosso vício.
Amo-te e sou hoje toda fúria, fera à espera da presa, dentes afiados cravados na tua carne, unhas que te retalham em postas, navalha esquartejando teus temores, tuas dores, teu mundo seguro. Sangro-te e sorvo das tuas veias o que me é necessário, me tornei filha de Nosferatu.
Amo-te em todas as palavras que te dou, jóias únicas incapazes de te traduzir, todas se repetem e te descrevem em belezas. Teus olhos de som e cor, melodia da tua voz que estilhaça o meu silêncio em mil pedaços, tua pele morna, teu cheiro de sal sol, teu gosto de madureza. Sei também das tuas sombras e não as temo, amo-te apenas.
Amo-te e sou hoje a fé dos cristãos, a blasfêmia mais forte dos hereges, a culpa de todos os pecadores, sou a bênção da nossa redenção.
Amo-te lembrança, presença, urgência. amo-te até naquilo que não sei, o que pressinto, o que em ti é meu espelho.
Amo-te, vivo-te, sinto-te.


Rosana Ribeiro 9.Outubro.2007

Pour toi, mon chér, ma vie... Amigo, amor, amparo, abrigo, o que existe de maior e melhor em mim desde então...

terça-feira, 9 de outubro de 2007

Eu te amo - Chico Buarque

Ah, se já perdemos a noção da hora
Se juntos já jogamos tudo fora
Me conta agora como hei de partir

Se ao te conhecer
Dei pra sonhar, fiz tantos desvarios
Rompi com o mundo, queimei meus navios
Me diz pra onde é que 'inda' posso ir

Se nós nas travessuras das noites eternas
Já confundimos tanto as nossas pernas
Diz com que pernas eu devo seguir

Se entornastes a nossa sorte pelo chão
Se na bagunça do teu coração
Meu sangue errou de veia e se perdeu

Como, se na desordem do armário embutido
Meu paletó enlaça o teu vestido
E o meu sapato inda pisa no teu

Como, se nos amamos feito dois pagãos
Teus seios ainda estão nas minhas mãos
Me explica com que cara eu vou sair

Não, acho que estás te fazendo de tonta
Te dei meus olhos pra tomares conta
Agora conta como hei de partir...
"Pensando em te matar de amor ou de dor eu te espero calada"...

Vanessa da Mata

Silêncio - Florbela Espanca

No fadário que é meu, neste penar,
Noite alta, noite escura, noite morta,
Sou o vento que geme e quer entrar,
Sou o vento que vai bater-te à porta...

Vivo longe de ti, mas que me importa?
Se eu já não vivo em mim! Ando a vaguea
Em roda à tua casa, a procurar
Beber-te a voz, apaixonada, absorta!

Estou junto de ti e nâo me vês...
Quantas vezes no livro que tu lês
Meu olhar se pousou e se perdeu!

Trago-te como um filho nos meus braços!...
E na tua casa... escuta!... Uns leves passos...
Silêncio, amor! Abre... sou eu...




Saudades - Florbela Espanca


Saudades! Sim... talvez... e por que não?...
Se o sonho foi tão alto e forte
Que pensava vê-lo até à morte
Deslumbrar-me de luz o coração!

Esquecer? Para quê?... Ah, como é vão!...
Que tudo isso, amor, não nos importe
Se ele deixou beleza que conforte
Deve-nos ser sagrado como o pão.

Quantas vezes, amor, já te esqueci,
Para mais doidamente me lembrar
Mais decididamente me lembrar de ti!

E quem dera fosse sempre assim:
Quanto menos quisesse recordar
Mais saudade andasse presa a mim!

Poema

"Trago comigo um retrato
Que me carrega com ele bem antes
De o possuir bem depois de o ter perdido.
Toda felicidade é memória e projeto".



Capa e Espada

"Meu amor sentindo-se incapaz de ser amada
levanta herméticos escudos e duendes a qualquer dádiva
que de mim - ai de mim! - possa brotar

nada mais ameaçador que os olhos do amor".


Amor, amor (música)

quando o mar
quando o mar tem mais segredo
não é quando ele se agita nem é quando é tempestade
nem é quando é ventania
quando o mar tem mais segredo é quando é calmaria

quando o amor
quando o amor tem mais perigo
não é quando ele se arrisca nem é quando ele se ausenta
nem quando eu me desespero
quando o amor tem mais perigo é quando ele é sincero.



De uma vez por todas (música)


Mais uma vez
Última vez
Agora é pra valer
Eu já tentei
Acreditei
Fiz o que pude fazer
Vem me dizer
Se você vem outra vez
Ou não
Última vez
Quem sabe amanhã
Não mais seremos ninguém
De uma vez
Perdidos pra sempre de nós
Não há nada a temer
É só querer outra vez.


Textos de Antônio Carlos Ferreira de Brito, o Cacaso, poeta e compositor.

Compartilhando...

"Que coisas são essas que me dizes sem dizer, escondidas atrás do que realmente quer dizer?
Tenho me confundido na tentativa de te decifrar, todos os dias. Mas confuso, perdido, sozinho, minha única certeza é de que cada dia aumenta mais a minha necessidade de ti. Torna-se desesperada, urgente. Eu já não sei o que faço. Não sinto nenhuma alegria além de ti.
Como pude cair assim nesse fundo poço? Quando foi que me desequilibrei? Não quero me afogar: quero beber tua água. Não te negues, minha sede é clara".

De Caio Fernando Abreu, escritor gaúcho.

segunda-feira, 8 de outubro de 2007

Nada do que fizessem dali para a frente conteria o que sentiam. Não havia necessidade de álcool ou qualquer entorpecente. A paixão já os embriagava de tal maneira que nem mesmo o alimento era preciso. Alimentavam-se de si mesmos. Sorviam as palavras que proferiam e, com o otimismo típico dos ingênuos que se apaixonam, tentavam enganar e reter o próprio tempo que insistia em transcorrer tal qual a realidade, depressa demais.
O sexo era só o alívio, o que importava, na verdade, era a presença. Estar diante do outro, para o outro era o que cada um precisava. Nada havia de sublime na conjunção carnal. Não eram transportados para nenhum estágio mágico, ao contrário, eram transportados ao próprio inferno deles, pois quanto mais se possuíam, mais se queriam. Mais necessários eram um para o outro, numa constante e dolorosa busca. Precisavam também do mundo fora deles, ainda que o repudiassem com veemência, apenas para poder se entorpecer com o ópio daquele sentimento que não tinha nome.
E só a tola esperança já os fazia crer que eram fortes o bastante para vencerem o mundo em que viviam. Tolamente acreditaram que seguiriam em frente juntos, por todo tempo, sem qualquer obstáculo, dispostos a enfrentar todo temor. Até que se assustaram com a imensurável força do destino, contra o qual eles nada eram. Deu-se então a dança dos erros. Nunca propositais. Apaixonados nunca erram de propósito, erram apenas com o louco propósito de reter para si o outro.
Amaldiçoaram o sentimento que os fazia melhores, únicos, lutaram contra si mesmos, renegaram-se e repeliram-se pela ilusão das mentiras, pelo medo da dor, do infortúnio e do próprio amor. Revelaram-se, um para o outro, monstros ferozes que eram lutando por si mesmos, e dessa vez, contra si mesmos.
Mascararam a paixão com mágoa. Odiaram-se. Fizeram-se indiferentes um para o outro. MOrriam a cada dia de fome e sede diante do banquete que eram eles. Talvez até chorassem sozinhos na solidão dos seus quartos, no escuro silêncio da noite quando julgavam que não podiam ser ouvidos.
À parte a dor, procuravam-se todos os dias nos detalhes cotidianos, sem que um soubesse da busca do outro. Armaram-se com outras pessoas num gesto desesperado por proteção, querendo, no fundo, apenas sentirem-se seguros e menos dilacerados pela dor da ausência. Mentiram para si mesmos que a vida continuaria igual e talvez até melhor, mas já não se importavam em crer.
Ainda assim, queriam quase com total desespero, estar juntos mais uma vez. Como se nessa única vez pudessem dizer tudo o que não fora dito, desfazer todos os mal-entendidos, reconhecer que o sentimento vivia e seguia com eles. Precisavam, apenas, mais uma vez, vampirizarem-se, resgatando no outro a própria força. Eles podiam. Só não sabiam como. Porque uma vez haviam sido cegos pela paixão que esconde as sombras.
Então seguiram, cada qual com sua mortalha no meio dos outros que nada sabiam por não terem amado daquela maneira.
E, por mais distantes que julgassem estar um do outro, estava, cada vez mais perto, mais atentos, mais amargos, mais conformados com o destino. Mais sozinhos. Tudo porque haviam se perdido e sabiam o caminho de volta.


Rosana Ribeiro 12.Agosto.2006

Para Jean Luvisoto. Pour toi, mon chér.

sábado, 6 de outubro de 2007

Tuas Fotos - Pública

Tuas fotos, nossa história
Tão alheia às insatisfações
Procurando nos teus braços
O orgulho que perdi
Nada como o sol transformador
Nada como o sol
Transforma a dor em manhã...

sexta-feira, 5 de outubro de 2007

Gostaria - J.G. de Araújo Jorge

Queria compartilhar contigo os momentos mais simples e sem importância.
Por exemplo: sair contigo para passear, sentir-te apoiada em meu braço, ver-te feliz ao meu lado alheia a todo mundo que passasse.
Gostaria de sair contigo para ouvir música, ir ao cinema, tomar sorvete, sentar num restaurante diante do mar,olhar as coisas, olhar a vida, olhar o mundo, despreocupadamente, e conversar sobre "nós" - esse "nós" clandestino que se divide em "tu e eu"quando chega gente.
Encontrar alguém que perguntasse: "Então, como vão vocês?"e me chamasse pelo nome, e te chamasse pelo nome e juntasse assim nossos nomes, naturalmente, na mesma preocupação.
Gostaria de poder de repente te dizer:- Vamos voltar pra casa...( Como se felicidade pudesse ser uma coisa a que tivéssemos direito como toda gente.).

terça-feira, 2 de outubro de 2007

"Deixei que fosse embora, achando que você era pouco. Pequena gota.
Deixei que fosse embora, sem saber que eu secaria com o tempo.
Que viraria deserto."

Do blog "Coisas da Gaveta"

Lâmina

"E quando menos se espera, acontece uma outra vez. Palavras. Promessas. Tapete vermelho, estendido por metros, tornando o chão macio. Sem obstáculos. Maquiando a terra, imunda, que existe por baixo dos sapatos. Sempre assim. De repente. Quando menos se espera, o caminho, que parecia levar para um lado, oferece outro fim. Morro por isso. Mais uma vez. Por acreditar no que havia me garantido. Mentiras entre sorrisos. Morro mais uma vez por não imaginar que suas mãos me traziam até aqui. Guilhotina. Cabeça apoiada, mãos acorrentadas, morro mais uma vez com a queda repentina desta lâmina. Golpe que me divide em dois."

De Eduardo Baszczyn

Vômito

"Ler é o alimento de quem escreve. Se não gostar de ler, como vai gostar de escrever? Ou escreva, então, para destruir o texto. Mas alimente-se. Fartamente. Depois vomite. Pra mim, e isso pode ser muito pessoal, escrever é enfiar um dedo na garganta. Depois, claro, você peneira essa gosma, amolda-a, transforma. Pode sair até uma flor. Mas o momento decisivo é o dedo na garganta."


De Caio Fernando Abreu

Metades

"Porque, há muito, eu erro a mão. A dose. Esqueço a receita do equilíbrio. O quanto uso das partes que brigam dentro de mim. Há muito, eu me confundo. Porque metade não tem medo e levanta os braços, na descida da montanha-russa. Olhos abertos, enquanto outra acha melhor enfrentar a queda com as mãos na barra. Segurando forte. Espremendo os dois olhos, fechados, desde o começo do percurso. Metade prefere brincar na beira da praia. No raso. Enquanto outra não vê problemas em pular dezenas de ondas e nadar onde a pequena bandeira vermelha, agitada pelo vento, avisa sobre o risco. Sobre o possível afogamento. Porque, há muito, eu erro a receita do equilíbrio. Uso a parte que não deveria na hora em que não poderia. Me confundo com as metades que brigam dentro de mim. Porque parte acelera na estrada, no momento da curva fechada.Pé direito até o fim, enquanto outra freia, bruscamente, ao ver a primeira placa. Seta torta, avisando sobre o perigo. Metade não suporta a burrice, a pequenez, a lerdeza. Outra, sempre calada, tolera a banalidade. Engole a ignorância. Convive com a mediocridade. Há muito, eu erro a mão. A dose. Me confundo com o que devo usar. Porque metade briga. Explode. Dedo apontado na cara, enquanto outra se recolhe, quieta, debaixo da cama. No quarto fechado. No tudo escuro. Metade berra. Outra sussurra. Tenho uma parte que acredita em finais felizes. Em beijo antes dos créditos, enquanto outra acha que só se ama errado. Tenho uma metade que mente, trai, engana. Outra que só conhece a verdade. Uma parte que precisa de calor, carinho, pés com pés. Outra que sobrevive sozinha. Metade auto-suficiente. Mas, há muito, eu erro a mão. A dose. Esqueço a receita do equilíbrio. Me perco. Há dias em que uso a metade que não poderia. Dias em que me arrependo de ter usado a que não gostaria. Porque elas brigam dentro de mim, as metades. Há algumas mais fortes. Outras ferozes. Há partes quase indomáveis. Metades que me fazem sofrer nessa luta diária. No não deixar que uma mate a outra."

De Eduardo Baszczyn

Ponto

"É por saber como tudo termina, que abandono esta história por aqui. Incompleta. Eu, hoje, corto dois pontos dessas nossas reticências e deixo apenas um. O final."

De Eduardo Baszczyn

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

Dele

"Ela parece verdadeira
Tem sabor verdadeiro
Meu amor artificial de plástico
Não posso evitar o sentimento
Eu poderia explodir pelo teto se eu tentar fugir disso tudo
Mas isso me desgasta,
Pelo menos se eu pudesse ser quem você queria que eu fosse o tempo todo... o tempo todo..."


Bebo tuas palavras de maneira sôfrega e me surpreendo sempre... porque tu sempre fostes quem eu queria o tempo todo... todo o tempo...
Abimo Pectore.

sexta-feira, 28 de setembro de 2007

Dele para mim...

"Não trago mapas, não leio as placas, não sigo pegadas quando sei que são tuas... Se perdi o tom foi pra escapar da tua atração... Devolva-me o que você levou... Leve-me contigo... Perca-se comigo..."

E me perder por esse amor é me encontrar...

Je t'ambrasse plus fort, mon enfant avec le nom français...

Hoje... pra você...

"Seja do que forem feitas as almas, a minha e a dele são a mesma"...


"Amar-te foi belo porque tive a certeza de estar viva quando a morte me tocaste mais vezes do que sabes"...

quinta-feira, 27 de setembro de 2007

"Não se compreende música: ouve-se. Ouve-me então com teu corpo inteiro".

P/ Jean Luvisoto. "Saudade ancestral"...

Pour toi, mon coeur...

"Eu te recebo de pés descalços: esta é minha humildade e esta nudez de pés é a minha ousadia".
Amanhece em mim teu céu
Azul e tão claro,
Depois de toda a tempestade.
Brilha para mim teu sol,
Seca de mim todas as lágrimas,
Até aquelas que tu não causastes.
Ilumina em mim
Aquilo que um dia foi dor e solidão,
Silêncio e escuridão
Porque só tu sabes
O quanto caminhei para finalmente poder voltar.
Recebe de mim
O cansaço, o desgosto, a tristeza do desamparo
Volto meio morta
Retalhada em postas
Dor lancinante transpassando o peito,
O mesmo que tu ainda habitas.
Recolhe em mim
Todas as perdas que me pesam,
Que me calam,
Que turvam meus olhos. Compartilha comigo nosso tão precioso silêncio,
Entrelaça tuas mãos com as minhas,
Por alguns minutos,
Me proteja do mundo em teu abraço.
Eu só me permito te perder
Se for bem devagar...

23.Setembro.2007
P/ Jean Luvisoto. Amor, fé, minha alma igual.
Mais uma vez
O silêncio se fez
Erva daninha destruindo tudo
Até mesmo o que não chegou a ser,
O que se torna
Nó na garganta
Fim de qualquer esperança
Vasto deserto que não comporta a vida.
Não tema agora
A escuridão das noites,
O sol imenso no céu
Que não te aquece,
O vento cortante
Que não te toca mais.
Acostumastes com o vazio dos dias,
A falta de brilho nos olhos,
Braços que se estendem na direção do nada
Busca incessante por aquilo que não mais se vê
Verbos que se conjugam
No tempo de quando...
Palavras que morreram
Ante o silêncio que se fez
Uma outra vez.


04.Setembro.2007
P/ Jean Luvisoto. Por ser tanto, tudo, até mesmo o incômodo silêncio que temo.
Percorre com tuas mãos
Meu corpo branco
Quente
Derretendo por ti
Fundindo-se com teu próprio desejo.
Bebe-me inteira
Com tua boca necessária
Líquido e carne
Furor e silêncio.
Atravessa-me com teu próprio corpo,
Me descubra
Me guarde para si
Antes que eu me perca.
Marca minha pele com teu toque
Pêlos arrepiando ao contato,
Febre levando ao delírio.
Deixe que meus seios te ofereçam vida,
Que sejam teu repouso
Tradução de volúpia e lascívia
Que tu descobrirás a cada vez que me despir.
Colhe da minha boca o beijo que precisas
Cala
Silencia todo temor que é nos sabermos assim
Entregues,
Famintos,
Um pelo outro, perdidos.

15.Julho.2007
P/ Jean Luvisoto. Palavras não existem que possam definir tanto... Abimo pectore.
Ele tinha os olhos mais tristes que já vira. E eram doces. E a acompanhavam com verdadeira adoração quando ela seguia, para onde quer que fosse, desfilando para ele num jogo de provocação quase cruel.
Ele a observava sempre com seus grandes olhos tristes. Desenhava cada detalhe do seu rosto e do seu corpo em sua mente. Nada havia de segredo no que podia imaginar.
Quase todas as manhãs ele estava lá, olhos tristes e atentos. Nenhum detalhe dela se perdia para ele. Sabia que gostava de flores, não rosas, comuns demais para ela, mas gérberas que explodiam cores, orquídeas resistentes, sutis em sua força. Sabia também que gostava da chuva só da sua janela, mas algumas vezes deixava-se banhar por ela. Talvez quando precisasse lavar de si alguma dor de amor para continuar seguindo livre por suas ruas, onde ele a perdia de vista. Seus olhos não a alcançavam.
Seua olhos tristes se alegravam com o sorriso fresco de cada manhã. Esperava por ele a cada noite. Compromisso com hora marcada. Alimento diário que o nutria.
Ela nada sabia, mas ele estava ali. Sentinela a postos em cada madrugada que ela surgia, princesa de seu conto de fadas. A delicadeza estava naquilo que ela não revelava, mas ele sabia. Fora descobrindo aos poucos a mulher de olhos claros e passos seguros.
Sorria sempre de onde ela não via, quase encantado pelo som cristalino da sua voz somada a das crianças no parque. Até mesmo as crianças paravam quando ela surgia, silenciando as vozes e esperando também pelo sorriso, os olhos divertidos ao se juntar a elas na brincadeira.
Sabia que ela gostava de se equilibrar no meio-fio das calçadas, de brincar, divertida, com os paralelepípedos da rua quando julgava não ser observada. Só os olhos dele a seguiam. Tristes e atentos.
Ele a via brincar com os cachorros na rua, a correr apressada para o trabalho, praguejando baixinho pelo atraso. Via também as sombras da janela enquanto ela dançava como uma cigana. Ouvia a música e lembrava dos seus olhos com brilho infantil e o som do riso cristalino. como ela podia não gostar de rosas quando as pétalas rubras cobriam seu corpo branco em seus sonhos? Era a única coisa que não sabia dela.
Sabia também que ela era só. a sua solidão transparecia em seus olhos claros quando cruzava com os seus, escuros e tristes.
Gostava de vê-la chegar no meio de uma tarde qualquer, pegando-o de surpresa. E também nas noites, quando ela trazia consigo todo cansaço do mundo, olhos que se nublavam.
Ela gostava do sol. Vê-lo morrendo no horizonte, fogo poste em seus cabelos longos e negros, colorindo o rosto branco na janela, olhar perdido em um passado que ele jamais conheceria.
E numa noite silenciosa, ela surgiu envolta nas brumas que se faziam nas ruas. Não havia vento. Nem lua. Só ela nua na janela. Corpo claro estilhaçando a escuridão. Visão etérea de mulher e fera. Delicadeza de flor, bruxaria de feiticeira. De onde ele estava podia enxergar o brilho dos olhos acesos pelo vinho tinto, o preferido dela. Pensou que fosse enlouquecer ou se cegar ante a imagem dela na janela. Respirou mais fundo e sentiu o aroma de rosas que ela exalava.
Nessa noite ela o viu. "Que olhos tristes ele tem!". Os olhos mais tristes que ela já vira depois dos seus no espelho, mas sabia que disfarçava bem. Compadeceu-se com aquela tristeza que por vezes sentira também. Quem seria aquele que a observava de sua janela?
Na manhã seguinte, um tapete vermelho de pétalas se estendeu para ela em sua porta. Recolhera todas. Vestiria-se com elas mais tarde. Apaixonou-se pelas rosas rubras.


11.Junho.2007
Para Jean Luvisoto, mon enfant... fonte de toda e qualquer inspiração...

quarta-feira, 26 de setembro de 2007

Tudo de Mim - IRA!

Quando estás junto a mim
E o silêncio é quebrado por nossa respiração
Ofegante
Trêmula
E o frio da noite se transforma em nosso suor
Seu olhar se dirige ao meu
Seu sorriso... tímida
As suas mãos conhecem o meu prazer
E tudo o que eu posso fazer é retribuir o teu carinho
Te dando o maior amor que alguém já pôde sentir
Não quero mais que isso acabe, nunca mais que isso acabe
O seu olhar que se dirige ao meu
Porque eu gosto do seu cheiro
Gritos, gemidos...
e o meu coração batento em suas costas
E a vida então surgindo de ti...

Pour mon enfant avec le nom français... Abimo Pectore, sempre.

terça-feira, 25 de setembro de 2007

Estenda tuas mãos
Em minha direção
Me tome de volta
Me busque para si
Não se perca de nós.
Me encontre no vento
Ouça o meu lamento
Ele tem um nome e é o teu.
Me veja na lua
Corpo branco refletindo luz
Entrega
Espera.
Feche tuas mãos e me guarde
Não me entregue
Ao mundo que existe
Longe de ti.


P/ Jean Luvisoto. Abimo Pectore. 24.Julho.2007

Da Dor

Tu és
A falha do tempo
O atraso
Desencontro
Por tuas mãos descobri o desgosto.
Tu és o estio
Lágrimas represadas
Que o céu não chora
Se nega
Ferindo a terra.
Tu és o deserto
Campo estéril
Mata sem trégua.
Tu és, da minha noite,
Toda a escuridão
Meu desalento
Meu desamparo na solidão.
Tuas mãos que não me chegam
Olhar que cega
Torpor da inércia.
Tu és, na minha vida,
O nervo exposto
Fogo fáctuo
Perguntas sem respostas
Ilusão de ótica.
No meu corpo,
Tu és meu ventre
E coração
Tu és meu sangue
Meu fogo
Tu és os cortes na minha carne
A dor
O grito silenciando todo amor.


P/ Jean Luvisoto. Abimo Pectore. 18.Julho.2007

segunda-feira, 24 de setembro de 2007

Nuvem Negra

Não adianta me ver sorrir, espelho meu
Meu riso é teu
Eu estou ilhada
Hoje não ligo a TV nem mesmo pra ver o Jô
Não vou sair, se ligarem, não estou
A manhã que vem
Nem bom-dia eu vou dar
Se chegar alguém pra me pedir um favor, eu não sei
Tá difícil ser eu
Sem reclamar de tudo
Passa, nuvem negra
Rasga o dia
E vê se leva o mal que me arrasou
Pra que não faça sofrer mais ninguém
Esse amor que é raro e é preciso pra nos levantar
Me derrubou
Não sabe parar de crescer e doer...

DJAVAN
"Amor de minhas entranhas, morte viva, em vão espero tua palavra escrita e penso, com a flor que se murcha, que se vivo sem mim quero perder-te. O ar é imortal. A pedra inerte não conhece a sombra e nem a evita. Coração interior não necessita o mel gelado que a lua verte. Porém eu te sofri. Rasguei-me as veias, tigre e pomba, sobre tua cintura em duelo de kordiscos e açucenas. Enche, pois, de palavras a minha loucura ou deixa-me viver em minha serena noite da alma pra sempre escura..."

GARCIA LORCA

Lágrimas Sólidas

"Esquece.
Esquecer o quê?
De mim e de nós.
O que poderíamos ser.
O que eu queria que fôssemos.
O que eu desejaria que você fosse.
O que me tornei
O que quer que fôssemos.
A situação que não se criou.
As palavras certas que jamais foram ditas.
As brigas que não tiveram socos e murros.
As lesões que não machucaram.
A corda que não nos uniu.
As roupas que não foram estendidas.
Os assuntos que não foram debatidos.
Os planos que não fizemos.
Os arroubos que não foram contidos.
Os cursos que não foram feitos.
Os desatinos que não foram curados.
A vida que quase tivemos.
Os instantes que pouco falamos.
Os olhares que não olhamos.
O choro não chorado.
Lágrimas sólidas.
As dores que às vezes não temos.
Flutuar nas palavras não resolve.
Eu não era pra você,
Era para o mundo.
Esquece a vida que nunca tivemos.
Esquece."
Choro junto com a chuva que cai
Todas as lágrimas do mundo
Represadas
Contidas
Desperdiçadas
Todas vãs.
Banham apenas meu rosto
E não lavam minha alma
Não cessam
Não secam
Não caem mais:
Choro por dentro;
Por dentro sangro e morro
A cada dia um pouco mais,
Lentamente...
Chamei teu nome nas noites,
Todas tão longas
Todas tão tristes,
E mesmo assim
Não respondestes ao meu chamado.
Esperei por ti todos os dias
De chuva e sol,
Corpo imóvel na janela,
Olhar fixo no hotizonte
E tu sempre me soubes onde...
E mesmo assim
Não veio ao meu encontro.
Ainda que não mais houvesse
O dia de céu claro,
A noite repleta de estrelas,
Depois de ti
Em mim sempre foi
Céu nublado, carregado de nuvens,
Noite escura
Onde preservo
Sem pudores ou receios
Gravados a sangue e fogo,
Teu nome em fermata,
Teus olhos de som e cor,
Teu corpo de deserto e fúria,
Teu cheiro de sal e sol,
Tuas mãos cravadas em minha carne.

P/ Jean Luvisoto. Abimo Pectore. 30/08/2007.

sexta-feira, 21 de setembro de 2007

O céu nublado anuncia a chuva já bem perto. Da janela do meu apartamento, vejo ao longe a cidade tranquila. Volta a fazer frio. Enquanto observo a chuva começando a cair mansa, penso em tudo o que já foi, o que não pôde ser, o que vai ser a partir de agora. Contabilizo as perdas, os ganhos e me sinto zerada com a vida. Começo de novo, alma de fênix, renascendo sempre das próprias cinzas.
Tento manter o equilíbrio nessa tênue corda sempre bamba que é a vida. Atravessá-la corajosamente, impetuosamente é a única escolha que me resta. Sigo em frente.
Silêncio nas ruas, no meu apartamento, dentro de mim há muito ele já se instalou, impiedoso senhor que faz com que me depare com lembranças que não quero, hoje eu não as suporto.
Estendo a mão para que os pingos da chuva me toquem, lembrando-me que estou viva. Preciso ao menos me lembrar desse fato, pois há muito já não sinto. A dor me anestesiou. Nem mesmo o pavor dos dias seguintes me assalta mais. Melhor assim. Kamikase que sou, simplesmente me atiro, materializo o que desejo, vivo, sofro, sangro, bebo até o último gole. Às vezes engasgo. Noutras, tudo passa tão rápido que nem sinto o sabor através dos goles sôfregos.
O céu está branco... Se não fosse pela chuva, seria vazio... O som do trovão me lembra que em mim já é tempestade, cortes que não saram e não sangram.
Amanhã, mesmo que surja o sol, o temporal em mim permanecerá. Preciso dele para me fecundar uma outra vez. E seguir. Vazia de promessas e lembranças. Repleta da vida que habita em mim.

quinta-feira, 20 de setembro de 2007

Da Espera

Eu deixei a porta aberta. E você não veio. O vinho na taça te esperava, tanto quanto eu. O líquido rubro se esgotou, eu também. Te chamei e você não ouviu, me cansei. Apaguei as luzes, tranquei o quarto e tentei adormecer. Ainda assim nos meus sonhos você não chegou... Chorei... Você não soube. Não esteve aqui secando as lágrimas, segurando minha mão. Não bebeu na mesma taça. Não importa.
Fiquei triste. As lágrimas silenciaram depois de secas. Sulcos profundos no meu rosto. Somaram-se a todas as outras que não chorei por você. Teu rio é raso, enquanto eu, sou água do mar, revolta, tempestuosa, estrago, mas passo.
Te esperei na semana passada, enquanto eu precisava exorcisar fantasmas. Te esperei há dois dias, enquanto eu ainda tinha alguma esperança. Te esperei hoje, enquanto achava que te precisava para seguir o meu caminho. Te esperei há algumas horas, quando finalmente aceitei que éramos nós, quando ainda me restava a fé. Te esperei há cinco minutos, taça cheia de vinho, corpo sedento por ti. Me cansei, fui dormir. Desisti de nós.
O líquido rubro na taça cumpre o que promete, me entorpece, lento, enquanto te bebo devagar.
Trago em mim todos os silêncios e todas as vozes. Me calo. Me embriago com o vinho, tinto do nosso sangue exposto. Bebe também em mim para matar tua sede, fogo posto em ti sem que soubesses. Tranca a lua no céu. Hoje ela não aparece. Até as estrelas se escondem. Nem elas te querem. Cansadas de te esperar, desaparecem no escuro.
Ilumina então meu rosto com teus olhos. Farta em mim tua fome do mundo. Esquece o não. Estande a mão em minha direção antes que eu lhe dê as costas. Recolhe com a mesma mão as lágrimas que se cristalizaram, diamantes brutos da dor. Reflete em teu espelho apenas aquilo que sou. E cala. Palavras desnecessárias ferem e se desfazem no espaço entre nós e o beijo que não acontece.
Eu te deixo ficar. Desbrava o mar que tenho em mim. Desfaz a trança em meus cabelos. Deixe que eles se espalhem soltos sobre teu peito. Pôr-do-sol morrendo na tua pele. Adormece em meus seios teus receios. Recosta-te em mim que te acolho e calo. Liberto o silêncio. O mesmo que nos completa.

P/ Jean Luvisoto. Abimo Pectore

quarta-feira, 19 de setembro de 2007

Pour mon enfant avec le nom français

Atravessei desertos. Enfrentei tempestades e furacões. Mesmo com medo, segui adiante, pois outra direção para mim nunca houve. Entre descobertas e desgostos, me perdi e me encontrei. Me ofereci e me tomei de volta. Noites de frio, solidão e vinho tinto, de aconchego e sorrisos, de olhares perdidos no céu à procura do que estava tão perto e eu não via. Noites em que eu não queria voltar para uma casa vazia e repleta de lembranças tuas... onde tu nunca estivestes... onde tua presença era palpável... Seguimos vida afora unidos por um sentimento que não tem nome, nos permitimos, nos buscamos em cada rajada de vento que tocava nossos rostos, distantes um do outro e ao alcance de nossas mãos. Nossas vidas foram feitas de espera até nos encontrarmos, nos perdermos, nos encontrarmos de novo...
Agora, que não mais te alcanço, te ofereço como derradeiro ato desse sentimento visceral, a liberdade para seguir um caminho onde tu não vais mais me encontrar...

Do Silêncio

Não quero ouvir falar de ti, hoje ensurdeço. A calma que me habita é indiferença. A noite chega e teimo em não seguir com ela. Hoje eu não quero. Me rebelo, mas sei que vou. Preencho minhas horas com tudo aquilo que te é estranho, quem sabe assim tu te afastas um pouco de mim e me deixa respirar um outro ar que não o teu. Adio minha fuga. Meu refúgio hoje tem que ser as ruas da cidade, as luzes, o movimento quase hostil de uma noite que evito porque te sinto chamando meu nome em cada esquina por onde passo e você nunca esteve. Você não se importa. Nunca. Me toma pra si sem que eu queira me doar, pois nada mais há em mim. Vazia. Foi assim que você me deixou. Não olhou para trás mas ainda foge para mim. A desgraça do meu mundo é te ter raiz no chão sob meus pés. Nem a fúria me socorre hoje... Não alcanço as velas, por isso não consigo guiar meu barco. Mar bravio, noite escura. Nenhum porto. Teu silêncio teima em me fazer naufragar. Tua recusa estala em minha quilha e meu desejo é me lançar ao mar para me esconder, tentar encontrar no que é fundo aquilo que preciso e nem sei. A orquídea branca me olha do outro lado da sala. Faltam as palavras. Os gestos também. Falta aquilo que esqueço de dar. Aquilo que não consigo calar. Tudo aquilo que te faço saber.Sigo ainda na tua direção, não mudo o caminho porque não conheço outro rumo. E você sabe que quando me perco, o perigo é esquecer de voltar. Cala tua voz hoje... Me deixa ser surda. Tira a luz dos teus olhos que me cegaram uma vez. Remove tudo o que há de ti em mim. Me deixa escurecer...