sexta-feira, 21 de setembro de 2007

O céu nublado anuncia a chuva já bem perto. Da janela do meu apartamento, vejo ao longe a cidade tranquila. Volta a fazer frio. Enquanto observo a chuva começando a cair mansa, penso em tudo o que já foi, o que não pôde ser, o que vai ser a partir de agora. Contabilizo as perdas, os ganhos e me sinto zerada com a vida. Começo de novo, alma de fênix, renascendo sempre das próprias cinzas.
Tento manter o equilíbrio nessa tênue corda sempre bamba que é a vida. Atravessá-la corajosamente, impetuosamente é a única escolha que me resta. Sigo em frente.
Silêncio nas ruas, no meu apartamento, dentro de mim há muito ele já se instalou, impiedoso senhor que faz com que me depare com lembranças que não quero, hoje eu não as suporto.
Estendo a mão para que os pingos da chuva me toquem, lembrando-me que estou viva. Preciso ao menos me lembrar desse fato, pois há muito já não sinto. A dor me anestesiou. Nem mesmo o pavor dos dias seguintes me assalta mais. Melhor assim. Kamikase que sou, simplesmente me atiro, materializo o que desejo, vivo, sofro, sangro, bebo até o último gole. Às vezes engasgo. Noutras, tudo passa tão rápido que nem sinto o sabor através dos goles sôfregos.
O céu está branco... Se não fosse pela chuva, seria vazio... O som do trovão me lembra que em mim já é tempestade, cortes que não saram e não sangram.
Amanhã, mesmo que surja o sol, o temporal em mim permanecerá. Preciso dele para me fecundar uma outra vez. E seguir. Vazia de promessas e lembranças. Repleta da vida que habita em mim.

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