quinta-feira, 20 de setembro de 2007

O líquido rubro na taça cumpre o que promete, me entorpece, lento, enquanto te bebo devagar.
Trago em mim todos os silêncios e todas as vozes. Me calo. Me embriago com o vinho, tinto do nosso sangue exposto. Bebe também em mim para matar tua sede, fogo posto em ti sem que soubesses. Tranca a lua no céu. Hoje ela não aparece. Até as estrelas se escondem. Nem elas te querem. Cansadas de te esperar, desaparecem no escuro.
Ilumina então meu rosto com teus olhos. Farta em mim tua fome do mundo. Esquece o não. Estande a mão em minha direção antes que eu lhe dê as costas. Recolhe com a mesma mão as lágrimas que se cristalizaram, diamantes brutos da dor. Reflete em teu espelho apenas aquilo que sou. E cala. Palavras desnecessárias ferem e se desfazem no espaço entre nós e o beijo que não acontece.
Eu te deixo ficar. Desbrava o mar que tenho em mim. Desfaz a trança em meus cabelos. Deixe que eles se espalhem soltos sobre teu peito. Pôr-do-sol morrendo na tua pele. Adormece em meus seios teus receios. Recosta-te em mim que te acolho e calo. Liberto o silêncio. O mesmo que nos completa.

P/ Jean Luvisoto. Abimo Pectore

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