quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Do Saber


A mão dele era pequena demais ao ponto de desaparecer entre a sua, mas mesmo assim ela a segurava firme. De vez em quando, passava a mão livre pela testa para eliminar o suor que ameaçava escorrer pelo seu rosto e a limpava no vestido. Pelo canto do olho, observava o filho.
_ Falta muito, mãe?
Ela o encarou e tentou esboçar um sorriso. De repente estancou e a criança a olhou com curiosidade.
_ Não... Estamos quase chegando...
Seu coração estava apertado. Se pudesse descreve-lo, diria que estava sangrando por uma ferida mortal. Queria poder enfiar a mão no peito e arranca-lo para exterminar aquela dor insuportável. Mas continuou andando. O suor continuava teimando em escorrer pelo seu rosto.
Mais uma vez, olhou para o chinelo surrado que o menino calçava, a roupa já pequena para o seu tamanho e puída pelo tempo e pelo uso, faziam-na ter a certeza de que havia tomado a decisão correta. E quem garante que as mães realmente sabem o que é melhor para os filhos? Essa era a pergunta que não saía de sua mente nas últimas horas.
Ao longe avistou o portão da casa que era o seu destino. Nessa hora se perguntou se teria coragem de ir até o fim. Sabia que era preciso. Mas a medida que se aproximava da casa, suas forças iam abandonando-a, suas pernas tremiam e o suor se tornava frio e mais abundante.
Numa questão de segundos, lembrou-se nitidamente dos últimos cinco anos desde o nascimento de seu filho. Achou que ia sufocar com a dor. A mãozinha escorregava da sua e ela apertava mais forte.
Parou diante do portão e a mulher, distinta e bem vestida, já a esperava. Queria um último momento com o filho. Tentou dizer em três palavras tudo o que ele representava. Impossível conter as lágrimas naquela hora.
Entregou seu filho à mulher enquanto ele a olhava, inquisidor. A senhora lhe estendeu o pacote e ela o recusou, deixando a outra espantada. Para onde iria não precisaria de dinheiro. O câncer em fase terminal havia limitado sua existência junto ao filho e a única coisa que poderia lhe oferecer era o futuro. Um futuro que ela não tinha mais.


Rosana Ribeiro

Nenhum comentário: